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05 de fevereiro, 2021
“É um fato curioso, cuja razão não é óbvia, que o intervalo de uma única noite aumenta enormemente a força da memória. […] Seja qual for a causa, coisas que não podiam ser lembradas no ato são facilmente coordenadas no dia seguinte. O próprio tempo, que em geral é considerado uma das causas do esquecimento, serve na verdade para fortalecer a memória.”
Esse texto está em um escrito de quase 2 mil anos de história atribuído ao professor e retórico romano Marco Fábio Quintiliano, mas ele bem poderia estar em qualquer artigo sobre a relação entre memória e sono.
É verdade que de lá pra cá a ciência e a medicina do sono evoluíram muito e já conseguem explicar essa “razão (que) não é óbvia”, mas o parágrafo de Quintiliano deixa uma coisa bem clara: há quase 20 séculos sabemos que para ter uma boa memória é preciso dormir bem. E ainda hoje tem gente que acha que dormindo “só umas quatro horinhas” está tudo certo.
Fazendo uma comparação simples, a relação da privação do sono com a memória é como tentar tapar o sol com a peneira: você pode até tentar, mas não vai ter o resultado esperado.
Dormir é como se fosse um comando que arquiva a memória do dia anterior e de quebra faz uma limpeza geral no espaço para no dia seguinte receber novas informações. É um ciclo sem fim, mas que se uma das suas etapas for prejudicada, vira um castelo de cartas.
Os três primeiros estágios do sono (dois sono não-REM leves e um não-REM de ondas lentas) preparam o cérebro para criar novas memórias no dia seguinte. É por isso que não dormir pode derrubar a capacidade de retenção de informações em até 40%.
Não é à toa que estudos já vinculam a apneia do sono com a perda de memória.
Do mesmo jeito que uma boa noite de sono “limpa” espaço no cérebro para aprender mais, ela também é responsável por fixar os aprendizados do dia. É como se fosse uma transferência de arquivos de uma pasta temporária para uma pasta definitiva na nossa cabeça.
Em seu livro “Por que dormimos?”, o professor referência em temas do sono Matthew Walker descreve uma série de testes feitos no início dos Anos 2000 que comprovaram que quanto mais sono não-REM (ou NREM) há durante a noite, mais informações do dia anterior são retidas.
Os mesmos testes ainda foram além e mostraram que, as informações que aprendemos no dia e ficam armazenadas no hipocampo, na manhã seguinte já não estão mais lá: elas foram transferidas para o neocórtex, na região mais alta do cérebro. Ali elas ficarão por muito tempo. Possivelmente para sempre.
Ou seja: dormir é mais do que necessário para aprender algo de fato. Este é o momento, afinal, em que permitimos ao nosso corpo fixar de forma permanente um aprendizado.
Sabe o famoso “dorme que passa” que todo mundo já ouviu alguma vez na vida? Ele é mais real do que a gente poderia imaginar quando ouvia essa frase na adolescência.
Por mais que os cientistas ainda não saibam explicar ao certo como o cérebro faz isso, já está comprovado por diferentes estudiosos, entre eles o professor Matthew Walker, que durante o sono nosso cérebro sabe quais memórias ele deve reter e quais apagar.
Quando somos orientados ativamente de que uma informação não precisa ser lembrada, ao dormimos fazemos exatamente isso: deixamos ela de lado e damos preferência àquelas que precisamos recordar.
Algumas memórias que temos são pessoais e relacionadas a coisas que vivemos, como uma viagem ou a emoção de ver seu time sendo campeão da Libertadores. Outras, são factuais, como uma data importante ou um número de telefone. Ainda há aquelas instrucionais, como uma coreografia ou andar de bicicleta.
Seja qual for o tipo, para uma informação se transformar efetivamente em memória, ela precisa passar por três diferentes estágios:
1. Aquisição, quando se aprende ou vive algo;
2. Consolidação, quando o que é adquirido se torna estável no cérebro;
3. Recordação, quando se é capaz de recuperar no cérebro essa informação, com maior ou menor facilidade.
Enquanto a aquisição e a recordação acontecem com uma pessoa desperta, a consolidação precisa necessariamente do descanso noturno. Portanto, sim, a memória e o sono estão intimamente interligados. Não existe memória sem sono.
Boa noite! Com certeza você vai se lembrar desse post amanhã.
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