
A vida está cheia de incertezas. A única certeza que temos é que nascemos, crescemos e envelhecemos. A juventude e a longevidade são produtos genéticos, sociais, culturais e comportamentais: o envelhecimento depende, em parte, da própria pessoa. Os lados genéticos, sociais e culturais são incontroláveis, é verdade, mas o comportamental está sob o controle de cada um.
Alimentação, prática de exercícios físicos e sono, o tripé da saúde, têm um papel essencial na determinação de como a nossa vida vai evoluir.
Como vamos chegar à tal da “terceira idade” é um tema ainda mais importante quando levamos em conta a projeção do IBGE que diz que, em 2060, haverá uma inversão na pirâmide etária brasileira e teremos uma população mais idosa do que jovem.
Aqui, é claro, vamos focar nos impactos do sono na receita da longevidade e do envelhecimento saudável e também no oposto, ou seja, como o avançar dos anos muda naturalmente os padrões de sono de uma pessoa.
Mudanças do sono durante o envelhecimento
Ao longo da vida, naturalmente os nossos padrões de sono vão sendo lenta mas brutalmente alterados. É só ver a diferença entre os tempos que passam dormindo um recém-nascido e uma criança de um ano. Ou ainda de um adolescente (naturalmente mais noturno) e um adulto (a maioria volta a um padrão matutino).
Quando uma pessoa alcança a quinta década de vida, ela volta a passar por mudanças bastante características na arquitetura do sono. Entre essas mudanças estão:
- Antecipação do tempo de sono (horários mais cedo de dormir e acordar);
- Aumento da latência do sono;
- Sono mais curto;
- Maior fragmentação e fragilização do sono (com aumento dos episódios de despertar de madrugada);
- Redução do tempo passado em sono profundo.
Os idosos realmente precisam de menos sono ou eles não conseguem dormir?
Isso é o que diz o senso comum no que se refere a sono versus envelhecimento e longevidade; que com os passar dos anos as pessoas precisam dormir menos. Mas isso não é verdade.
A partir dos 20 anos até a velhice o tempo necessário de sono é bastante similar. Existem, claro, variações de pessoa para pessoa, mas individualmente não há grandes mudanças.
O que de fato acontece, e a origem dessa fake news do sono, é que muitos adultos em idade avançada dormem menos do que o necessário por uma variedade de motivos, nenhum deles primariamente causado pelo avanço dos anos. O sono insuficiente não é a causa, mas sim a consequência.
O aumento da incidência do sono leve é uma das causas dos problemas para dormir das pessoas idosas. O sono leve, ou não-REM 1 (NREM 1) é aquele em que o cérebro está transitando entre os estados acordado e adormecido e, por isso, continuamos a estar conscientes do que acontece ao redor. Assim, durante essa fase é mais fácil despertar, deixando a noite pouco efetiva e pouco restauradora.
O idoso pode até acabar dormindo mais horas, mas por serem preenchidas por tanto sono leve, ele acaba não tendo grandes resultados.
Quando a saúde afeta o sono durante o envelhecimento
A saúde também é outra possível causante da diminuição do sono durante o envelhecimento.
Estima-se que entre 13 e 32% das pessoas acima de 65 anos nos Estados Unidos tenham apneia do sono, enquanto entre os mais jovens a prevalência é entre 2 e 9%. A apneia do sono causa o colapso repetido e/ou parcial das vias aéreas, causando sono fragmentado e derrubando o nível de oxigênio no sangue.
A insônia também é mais comum depois do envelhecimento graças ao maior risco de condições físicas, médicas e mentais que podem levar à dificuldade de dormir ou manter-se dormindo.
Alguns problemas cardíacos mais comuns em idades avançadas também podem dificultar o sono nessas faixas etárias avançadas.
Produção de melatonina é afetada com a idade
A mudança no organismo mais diretamente relacionada aos prejuízos à hora de dormir em idosos é, porém, a diminuição da produção de melatonina, hormônio do sono e um importante marcador do nosso ritmo de sono e vigília.
“Provavelmente temos o envelhecimento do Sistema Nervoso Central em que ocorre a atrofia de estruturas responsáveis pela produção de melatonina”, explica o Dr. Luciano Ribeiro, neurologista, especialista em Medicina do Sono e editor-chefe da Revista Sono da ABS – Associação Brasileira do Sono, parceira do Persono.
Olhando sob a perspectiva oposta, além de ser sinal de ser saudável, boas noites de sono diminuem o risco de queda e aumentam o bem-estar mental, além de uma infinidade de outros benefícios para a saúde.
Se você está percebendo uma deterioração ou mudanças nos padrões de sono com a idade, procure o seu médico de confiança ou um especialista. Lembre-se de mencionar o que tem mudado, dar detalhes sobre a sua rotina e listar todos os medicamentos consumidos diariamente, afinal eles também têm forte impacto na hora de dormir.
A vida saudável exige sono saudável, isso em qualquer idade, mas ainda mais com o passar dos anos, quando a saúde naturalmente tem mais percalços. Boa noite.