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01 de outubro, 2020

Entrevista: Sono e a evolução da tecnologia

Entrevista: Sono e a evolução da tecnologia

Conversamos sobre a relação entre sono e a evolução da tecnologia com a Dra. Andrea Bacelar,  atual presidente da Associação Brasileira do Sono e uma das maiores autoridades do Brasil em medicina do sono.

Nesta segunda parte da entrevista, a médica nos conta mais sobre os recentes avanços e descobertas da medicina e da tecnologia para fazer você dormir bem e viver melhor.

– E a evolução da tecnologia em relação à medicina do sono? Como tem sido essa evolução?

Falando em diagnóstico, o primeiro manual de polissonografia foi consolidado em 1969. Atualmente, a cada três ou quatro meses esse manual se atualiza para que entendamos os grafoelementos do sono importantes para diagnóstico de afecções neurológicas, respiratórias, cardíacas, transtornos do movimento relacionados ao sono. E tudo isso de forma unificada para todo o mundo. 

Também existe uma grande evolução da tecnologia não somente nos equipamentos para diagnóstico como também nos equipamentos para tratamento.

O CPAP, por exemplo, que é basicamente uma máscara ligada a um compressor que gera um fluxo de ar com pressão positiva na via aérea superior, há 15 anos parecia um escafandro. As pessoas não conseguiam usar e a adesão ao tratamento era muito baixa. Atualmente, as interfaces são muito melhores e mais amigáveis, com equipamentos mais silenciosos, e se consegue tratar melhor os pacientes.

– Mas falando de diagnósticos, como você enxerga esses sleep trackers que têm surgido no mercado?

Existe uma espécie de relógio, cujo nome técnico é actígrafo, que avalia o sono do indivíduo, identificando se ele está acordado ou dormindo. É diferente da polissonografia que consegue definir os diversos estágios do sono. Entretanto, a polissonografia avalia uma única noite, numa análise objetiva, mas não consegue avaliar, por exemplo, o ritmo biológico do paciente na rotina da sua vida, como a preferência de horário para dormir.

– E este tipo de avaliação contínua do sono é mesmo tão importante?

Tanto é que o Prêmio Nobel de 2017/2018 de Medicina foi para pesquisadores de medicina do sono que definiram a sequência gênica que avalia o ritmo biológico, a preferência genética, a vespertinidade ou a matutinidade de cada um.

Vivemos em um mundo em que tudo funciona 24 horas e que um quinto da população trabalha em turnos e turnos noturnos, ou seja, nos horários em que os hormônios e o cérebro humano estão se preparando para dormir. Precisamos de trabalhadores que passem noites acordados, mas a espécie humana foi feita para dormir na fase escura das 24h.

Por isso a importância destas novas ferramentas, que analisam por uma semana ou 15 dias como está o sono: a que hora esse indivíduo dorme, quantas horas eles dorme, a que hora acorda, se acorda ou não na madrugada. Talvez não consigamos saber se ele está em sono REM, mas vamos saber se ele está acordado ou dormindo, qual é a preferência de sono desse indivíduo. São ferramentas que realmente estão regularizando nossos horários e possibilitando outros diagnósticos.

– Falando em vida, qual o impacto da rotina do mundo de hoje no nosso sono?

Com essa vida 24/7 que estamos levando, a qualidade de sono e de vida da população tem sido muito prejudicada. As pessoas estão mais doentes pela modernidade, pelo estresse, pela carga de trabalho, pelo excesso de informação. Hoje, estamos on line, on time, full time: o tempo todo ligado. Só que a nossa espécie precisa desligar, precisa dormir, precisa se recarregar.

O sono tem funções já bem estabelecidas.

O ser humano precisa dormir para amadurecer o sistema nervoso central. Por isso crianças dormem 20 horas quando nascem, pois o cérebro não nasce pronto.

Precisamos desse tempo não só para o sistema nervoso, mas também para ativar um mecanismo anabólico para recuperar as energias gastas durante o dia.

Outra função do sono é a consolidação da memória.

É comum muitos pacientes procurarem os médicos se queixando de perda de memória, de falta de concentração, já pensando em Alzheimer. 

Sem dúvida, hoje o Alzheimer tem uma prevalência mais alta, porque nós estamos vivendo mais e o maior fator de risco para a demência é a idade. Só que as pessoas não percebem que para fixar o que se aprende durante o dia, é preciso dormir à noite, atingir um sono de ondas lentas e também o sono REM, para que essas informações sejam transferidas da área de trabalho do cérebro para a área cortical, pois é ali que ela se rearranja e se consolida.

Por outro lado, se não se dorme bem durante a noite, não se excreta substâncias tóxicas e não se elimina os beta-amilóides acumulados durante o dia, que é a mesma proteína que se acumula na demência de Alzheimer.

Enfim, estas são algumas das funções que o sono realiza deixando claro que não devemos nos privar dele, mesmo com a vida agitada do mundo moderno.

Leia também as demais partes da entrevista sobre medicina do sono e sobre a relação entre sono e saúde.


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