
Uma pesquisa publicada pelo Instituto de Sono em fevereiro de 2021 mostrou que 55,1% das pessoas alegaram uma piora do sono na quarentena. O tempo de tela e as preocupações do momento são considerados os principais culpados pelas noites ruins.
Os números corroboram com outras duas pesquisas publicadas anteriormente. Uma delas, feita pelo Ministério da Saúde, indicou que 41,7% dos brasileiros apresentaram distúrbios do sono durante a pandemia, tais como dificuldade para pegar no sono ou acordar.
Essas alterações dos padrões noturnos também foram percebidas na pesquisa Acorda, Brasil! do Persono, conduzida pela MindMiners e coordenada pela consultoria Unimark/Longo. Nela, 57% das pessoas disseram estar dormindo menos ou pior desde que foi decretada a pandemia no Brasil.
Se para as pessoas “normais”, dormir está sendo um desafio, como será que foi afetado o sono dos atletas na pandemia? A resposta, acredite, pode te surpreender.
O sono dos atletas na pandemia vai na contramão
É isso mesmo que você leu: enquanto você está dormindo pior, os atletas na pandemia estão dormindo melhor.
Vale lembrar que, na ausência de uma definição precisa sobre o que significa dormir bem, existem alguns critérios que apontam para uma boa noite de sono. São eles:
- Latência do sono de no máximo 30 minutos;
- No máximo um despertar por noite;
- No caso desse despertar de madrugada acontecer, conseguir voltar a dormir em até 20 minutos;
- Passar dormindo 85% do tempo em que está na cama.
À exceção da latência do sono, que aumentou, os atletas realmente estão dormindo melhor. É a conclusão de um estudo do setor de Psicologia da Universidade Monash, em Melbourne, na Austrália.
Quase 600 atletas de diferentes modalidades responderam à pesquisa, que conseguiu concluir que “muitos deles (esportistas) conseguiram perceber os benefícios da melhoria no padrão de sono“.
Isso aconteceu porque, sem longas viagens e treinos exaustivos em horários irregulares, os atletas na pandemia puderam mudar dois aspectos importantes do seu sono:
1. Horários seguindo o cronotipo (o famoso “relógio biológico”) e não mais a agenda de trabalho, com treinamentos, eventos e competições.
2. Regularidade de horários, algo tão importante quanto a duração da noite.
Essa regularidade conseguiu diminuir entre os esportistas de elite o chamado jetlag social, termo cunhado em 2012 para se referir à diferença dos horários de dormir e acordar entre os dias de trabalho e os de descanso, quando tendemos a tentar “compensar” as horas de sono perdidas, prática comum, mas que não funciona. Os efeitos no organismo são os mesmos do jetlag meridional, aquele que sofremos quando viajamos.
+ Leia Mais: Faça o cálculo para saber se você tem jetlag social
Das piscinas e pistas para a cama: os atletas estão dormindo mais
Em um longo artigo publicado em agosto de 2020, o The New York Times relatou as mudanças na rotina dos atletas na pandemia. O foco eram os esportistas de alto rendimento e como eles estavam se adaptando à nova realidade, com a interrupção repentina da rotina de treinamentos e competição e o adiamento das Olimpíadas de Tóquio.
Alguns deles relataram que essa “pausa forçada” os fez reconsiderar os seus hábitos de treino e até mesmo o valor do sono nesse contexto.
É o caso da nadadora Claire Curzan, de apenas 16 anos. A pandemia mudou toda a sua rotina e sobretudo deu a ela tempo para aprender a lidar com a pressão. Ela conseguiu focar mais em sua melhora atlética e não apenas em rankings.
O mais importante, porém, foi que sem os treinos nas primeiras horas do dia ela passou a dormir, pelo menos, nove horas por noite. “Você se sente melhor e não fica com tantas dores“.
Quando as competições voltaram com Claire já adaptada à sua nova rotina noturna, ela conseguiu bater o seu recorde pessoal quatro vezes na mesma competição.
A história é similar à do corredor ugandense Joshua Cheptegei. “Preso” em casa devido à Covid-19 e sem poder encontrar seu treinador, ele reduziu a rotina de treinos e pôde dormir e descansar mais. Sua meta era a medalha de ouro nos 5 mil metros no Japão, mas ele foi além antes mesmo dos Jogos: Joshua quebrou o recorde mundial da modalidade.
Sono melhor, mas saúde mental prejudicada
Apesar das comprovadas ligações entre o sono de qualidade e a saúde mental, no caso de muitos atletas na pandemia, eles foram afetados de maneira diferente. A conclusão é da mesma pesquisa australiana mencionada anteriormente.
O aumento do tempo de tela (uso de eletrônicos), a exposição à luz natural diminuída e a redução drástica dos treinos aumentaram os episódios de depressão e ansiedade entre os atletas que participaram do estudo.
Com novas ondas de contaminação obrigando muitos países a retornarem o isolamento social e o lockdown, urge que o sono seja uma prioridade. “Sempre que possível, os atletas deveriam ter flexibilidade das horas de treino para que eles consigam ter consistência entre os dias de trabalho e dias livres“, diz o documento. Isso também vale para quando a pandemia acordar.
O sono de qualidade, em todos os seus aspectos (quantidade, qualidade e respeito à predisposição natural – cronotipo), é importante para que os atletas tenham melhor saúde mental e emocional, maximizem sua performance e ainda evitem o treino excessivo, que pode ter efeitos negativos nos resultados. Mas o sono não está sozinho e necessita de outros fatores.
“Também é preciso enfatizar a necessidade de aumentar a interação social e motivação para aqueles atletas que estão treinando isolados para melhorar a sua saúde emocional“, explica a Dra. Elise Facer-Childs, líder da pesquisa.
Ressaltamos que alguns estudos mais restritos apontam caminhos contrários, indicando uma queda na qualidade do sono dos atletas na pandemia de Covid-19. O estudo australiano mencionado, porém, é um dos mais abrangentes feitos no período, mostrando uma variedade de modalidades e maior quantidade de voluntários.
O Persono tem muito orgulho de ser fornecedor oficial do timaço que nos representará no Japão. Sucesso ao Time Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Durmam bem.