
E assim já vamos para o segundo ano sem Carnaval. Fica o feriado, mas devido à pandemia de Covid-19 seguimos sem uma das festas culturais mais importantes do Brasil e do mundo. Pelo menos por enquanto, já que existe a expectativa de que com o avanço da vacinação o Carnaval aconteça em abril. Vamos torcer.
Mais do que uma expressão cultural, o Carnaval é importante para a economia. No Rio de Janeiro, por exemplo, a festa movimenta cerca de R$4 bilhões por ano, enquanto em São Paulo são R$3 bilhões. Já Salvador estima que em 2022 a cidade deixe de circular R$1,7 bilhões devido ao cancelamento pelo segundo ano consecutivo.
Já que não vai rolar o Carnaval (pelo menos na sua data habitual), o Persono decidiu preparar uma playlist especial de sambas-enredo. Porque se tem um tema que os compositores e carnavalescos amam, esse tema são os sonhos. E se tem alguém que entende de sono, esse alguém é o Persono.
Quer ver só?
8 vezes que os sonhos foram tema dos sambas-enredo do Carnaval
Separa o confete, a serpentina e o glitter que eu duvido que no final desse post você não vai querer sair sambando também!
Unidos de Vila Isabel (1980) – Sonho de um Sonho
Há mais de quatro décadas, a Unidos de Vila Isabel levou à avenida no Grupo 1A Sonho de um Sonho, escrito por Martinho da Vila, Rodolpho e Graúna.
Baseado em uma ideia dos carnavalescos Fernando Costa e Sílvio Cunha, o samba tem forte cunho social, falando do sonho por uma sociedade mais livre, democrática e aberta. Entre as linhas, porém, a letra pede abertura política e liberdade.
Vale lembrar que a Lei de Anistia havia sido assinada menos de um ano antes, em setembro de 1979, mas que a liberdade de expressão ainda era diminuta e o medo ainda pairava em ares brasileiros.
Mocidade Independente de Padre Miguel (1992) – Sonhar Não Custa Nada! Ou Quase Nada
O samba de Dico da Viola, Moleque Silveira e Paulinho Mocidade baseado no enredo dos carnavalescos Renato Lage e Lílian Rabelo é um clássico da Mocidade Independente de Padre Miguel.
A letra não tem entrelinhas ou tom político: ela fala faz a mais pura exaltação da necessidade de sonhar e ter esperança. “Deixe a sua mente vagar, não custa nada sonhar. Viajar nos braços do infinito onde tudo é mais bonito”.
Sonhar Não Custa Nada! Ou Quase Nada deu o vice-campeonato do Grupo Especial do Carnaval carioca para a escola de Padre Miguel.
Estação Primeira de Mangueira (1994) – Atrás da Verde e Rosa Só Não Vai Quem Já Morreu
O título parece familiar? É de propósito. O samba escrito por Carlos Senna, David Corrêa, Fernando de Lima e Paulinho de Carvalho é uma homenagem da escola aos Doces Bárbaros de Maria Bethânia, Gal Costa, Gilberto Gil e Caetano Veloso.
O sonho carnavalesco da Mangueira aparece no refrão do enredo: “Me leva que eu vou, sonho meu. Atrás da verde-e-rosa só não vai quem já morreu”.
O clássico baiano virou um clássico do Carnaval carioca.
Acadêmicos do Grande Rio (1995) – Estória Para Ninar Um Povo Patriota
Com um título desse, não tinha como o samba da Grande Rio para o Carnaval de 1995 ficar de fora da nossa playlist!
Apesar do título com referências infantis aos contos de ninar, a letra deste samba é bastante intensa e política, transformando o ciclo da borracha na Amazônia em um paralelo com a história da Bela Adormecida.
Na história, o rei Amazonas vivia tranquilamente em sua terra rica em borracha até a chegada da Rainha Inglaterra, que levou escondida milhares de espécies da planta que era seu tesouro. Isso fez com que a Princesa Manaus adormecesse profundamente durante quase dois séculos, até que o Príncipe da Tecnologia a beijou e a despertou de seu sono eterno.
Acadêmicos do Salgueiro (2002) – Asas de Um Sonho, Viajando Com o Salgueiro, o Orgulho de Ser Brasileiro
Em 2002 o Salgueiro levou para a Sapucaí um samba escrito por Claudinho, Nêgo, Leonel, Luizinho Professor, Serginho 20 e Sidney Sã que falava sobre o sonho de voar.
Não precisamos nem dizer que um dos carros alegóricos era uma grande homenagem a Santos Dumont, certo? Mas ele não foi o único, já que o desfile era uma honraria a um salgueirense de coração, o Comandante Rolim Amaro, presidente da TAM, que faleceu poucos meses antes do desfile. Ele estaria na alegoria que fechou o desfile: um avião em proporções reais.
Os pássaros, as nuvens, as comissárias de bordo e até Leonardo da Vinci também apareceram na avenida.
Unidos da Tijuca (2004) – O Sonho da Criação e a Criação do Sonho: a Arte da Ciência No Tempo do Impossível
Uma exaltação à ciência. Esse era o enredo que marcou o primeiro Carnaval de Paulo Barros como carnavalesco da Unidos da Tijuca.
O desfile era tão cientificamente preciso que foi destacado pela prestigiosa revista Nature, com menção especial à alegoria formada por 133 bailarinos que com os seus movimentos formavam uma espiral de dupla hélice que representava a estrutura do DNA. Um clássico instantâneo que ainda hoje é lembrado por muita gente.
Na letra do samba de Jurandir, Wanderlei, Sereno e Enilson, o sonho é o início de tudo: é preciso sonhar para realizar.
“É tempo de sonhar… É tempo de alquimia. Querer chegar à perfeição com tecnologia.”
Sociedade Rosas de Ouro (2009) – Bem-Vindos À Fábrica Dos Sonhos…
Tem sonhos no Carnaval paulistano também! Depois de sete anos fora do pódio do Sambódromo de São Paulo, a Rosas de Ouro surgiu em 2009 falando sobre os sonhos. Deu certo e a escola terminou em terceiro lugar.
O samba-enredo dos compositores Marquinho Sorriso, Maurício Paiva, Armênio Poesia, Aquiles da Vila, Chanel e Fredy Viana era uma grande homenagem aos trabalhadores da maior fábrica de sonhos do mundo: o Carnaval!
Já na comissão da frente, a agremiação homenageou as suas concorrentes, com cada integrante carregando um pavilhão de uma escola diferente. Houve ainda referências aos clássicos carnavalescos Pierrot e Colombina e ao Garantido e ao Caprichoso, bois de Parintins, manifestação cultural amazonense.
Estação Primeira de Mangueira (2019) – Histórias Para Ninar Gente Grande
No último Carnaval pré-pandêmico, a Mangueira levou à Sapucaí um samba escrito por Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Mama, Marcio Bola, Ronie Oliveira, Danilo Firmino, Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo.
Contando o “outro lado da História do Brasil”, a Mangueira sagrou-se campeã do Carnaval carioca naquele ano.
Ao longo de suas alas, o carnavalesco Leandro Vieira fez uma leitura crítica do Brasil e contou a história de personagens pouco mencionados pelos livros escolares. De Leci Brandão e Jamelão a Dandara, passando por Dragão do Mar de Aracati, Marianna Crioula, Carolina de Jesus, Acotirene, Aleijadinho e Cunhambebe.
A vereadora Marielle Franco, executada em 2019 em crime ainda não esclarecido, também foi homenageada em passagem emocionante do desfile.
Agora… “Ô abre-alas, que eu quero passar”.
Bom Carnaval, com responsabilidade.
Boa noite!